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quinta-feira, 30 de outubro de 2008

PAPAI FEDORENTO


 

De tanto mamãe chamar

o papai de fedorento

a filhinha acreditou.


 

Nunca mais adiantou,

papai tomar um bom banho

passar perfume

ensaboar-se várias vezes;

a menina sempre sentia

o mau cheiro do papai.


 

O tempo foi passando,

a menina foi crescendo,

tudo passava adiante;

só não passava o cheirinho de papai.


 

Bem que a menina tentava,

superar o inconveniente.

Não perdia oportunidade

De dar-lhe perfume de presente.


 

Nada entretanto afastava

aquele cheiro inclemente

aquele cheiro operário

aquele ódio de mamãe.


 

Um dia papai morreu e,

seu inesquecível cheiro,

foi enterrado com ele.

Num esforço delirante,

Filhinha lavou-lhe os cabelos

e passou desodorante.


 

Logo o cheiro foi esquecido

naquele cemitério perfumado

...tão perfumado!...

Por filhinha e sua mãe.


 

A menina cresceu,

casou-se,

mudou-se.


 


 

Com efeito,

arranjou um noivo perfumado e obediente;

um sujeito decente

SEM DEFEITO

Aprovado por mamãe.


 

Mas o tal sujeito exato

Tão bacana!

Tão perfumado!

Logo enjoou do prato.

Foi atrás de outros perfumes,

novos odores e estrumes.


 

Na solidão dos desperfumados

filhinha refletiu sobre o amor verdadeiro;

aquele que não enjoa,

mesmo quando está fedendo.


 

Sentiu saudades de papai.