De tanto mamãe chamar
o papai de fedorento
a filhinha acreditou.
Nunca mais adiantou,
papai tomar um bom banho
passar perfume
ensaboar-se várias vezes;
a menina sempre sentia
o mau cheiro do papai.
O tempo foi passando,
a menina foi crescendo,
tudo passava adiante;
só não passava o cheirinho de papai.
Bem que a menina tentava,
superar o inconveniente.
Não perdia oportunidade
De dar-lhe perfume de presente.
Nada entretanto afastava
aquele cheiro inclemente
aquele cheiro operário
aquele ódio de mamãe.
Um dia papai morreu e,
seu inesquecível cheiro,
foi enterrado com ele.
Num esforço delirante,
Filhinha lavou-lhe os cabelos
e passou desodorante.
Logo o cheiro foi esquecido
naquele cemitério perfumado
...tão perfumado!...
Por filhinha e sua mãe.
A menina cresceu,
casou-se,
mudou-se.
Com efeito,
arranjou um noivo perfumado e obediente;
um sujeito decente
SEM DEFEITO
Aprovado por mamãe.
Mas o tal sujeito exato
Tão bacana!
Tão perfumado!
Logo enjoou do prato.
Foi atrás de outros perfumes,
novos odores e estrumes.
Na solidão dos desperfumados
filhinha refletiu sobre o amor verdadeiro;
aquele que não enjoa,
mesmo quando está fedendo.
Sentiu saudades de papai.
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